Acompanho vários canais sobre retrogaming no YouTube e uma discussão que eventualmente surge é: Como recuperar a vontade ou prazer em jogar videogames?
Em um desses vídeos, um comentário me chamou atenção e virou uma chave aqui na minha cabeça sobre isso. Afinal, eu também já passei por isso, tendo a sensação de que não me divertia mais tanto com videogames, mas insistia em querer que eles me divertissem.
Não tenho o comentário para colar, mas era de um cara dizendo que chegou à conclusão de que gosta mais da ideia de gostar de videogames do que de jogar videogames.
Isso faz muito sentido. A ideia de gostar de videogames remete à nostalgia, a um estilo de vida, a um grupo social com pessoas com muitas semelhanças que vão além do videogame.
Videogame é muito mais do que jogar. Videogame engloba música, arte visual e design, eletrônica e computação, histórias e roteiro, mundos alternativos e de fantasia. Tudo isso, somado à nostalgia, pode levar você à posição de ser mais um apreciador do mundo dos videogames do que um jogador.
E eu cheguei à conclusão de que é exatamente isso que eu sou: um apreciador.
Não vou usar a desculpa da falta de tempo para justificar o fato de não jogar tanto. Sim, quando ficamos mais velhos, temos menos tempo do que na infância e adolescência. Mas veja, estou usando esse tempo para escrever aqui, devo passar algumas horas no celular, assisto a algumas coisas na Netflix. O fato é que eu não jogaria mais do que jogo hoje mesmo se tivesse tempo. Talvez você também chegue a essa conclusão depois de refletir sobre como usa o seu tempo.
Nossa cabeça muda com o passar do tempo. Jogar videogame nos dias de hoje jamais será como era na infância, e isso independe de qual geração estamos falando. As crianças entram em um mundo de imaginação e fantasia com muito mais facilidade, além de intensificarem os estímulos ao ponto de confundir a realidade com ficção.
Ao mesmo tempo, conforme envelhecemos, nossa mente fica mais inflexível, visualizamos o mundo e a vida de forma mais concreta e física. Podemos apreciar histórias que se passam em mundos mágicos de ficção, mas jamais vamos experienciá-las de forma tão intensa quanto uma criança.
Você jamais irá experienciar Chrono Trigger da mesma forma que experienciou na primeira vez que jogou tendo 15 anos de idade.
Outro aspecto é que o fator novidade se torna menos frequente. Hoje, raramente encontraremos um jogo diferente de tudo o que já vimos. E não é só porque a indústria não inova, mas porque já tivemos tempo de vivenciar de tudo mesmo. A sensação de descoberta, exploração e aprendizado tende a ser menor, simplesmente porque já descobrimos, exploramos e aprendemos muito do que o mundo dos videogames tem a oferecer.
Por isso, hoje acredito que não faz sentido brigarmos contra a falta de vontade de jogar. Não existe cartilha sobre o que é ser um gamer (e se alguém tentar impor algo do tipo, é esse alguém que está errado).
Está tudo bem em ser um mero apreciador. Está tudo bem em assistir vídeos sobre a história dos jogos obscuros do Mega Drive ou Super Nintendo e nunca parar para jogá-los, mesmo com suas ROMs estando a alguns cliques de distância.