Estava vendo um corte do Flow Games onde surgiu a famosa discussão sobre o Playstation 2 ser ou não ser um console retrô. Discussão antiga, já houve uma onda de vídeos sobre o assunto em canais de retrogaming.
Bom, sintetizei a minha visão em um artigo. Como o título dessa notícia já diz, eu não considero o Playstation 2 um videogame retrô. Sei que ele foi lançado a mais de 24 anos. Sei que existem pessoas que nasceram depois do PS3 e já transam, mas acredito que a definição de retrô pouco tem a ver com o tempo.
Por que o Playstation 2 não é um console retrô?
Constantemente, a discussão sobre o PlayStation 2 (e, às vezes, até o PlayStation 3) poder ser considerado um console retrô reacende em algum lugar da internet. O principal argumento para considerá-lo retrô reside no tempo desde seu lançamento. O PlayStation 2 foi lançado no Japão em 4 de março do ano 2000; ou seja, já se passaram no mínimo 24 anos até a data em que você está lendo este artigo.
Apesar de o argumento temporal ser compreensível, aqui explicarei por que não considero o PlayStation 2 um console retrô. Todos os argumentos aqui valem também para o Game Cube e para o primeiro XBox.
A definição de retrô deve ir além da simples passagem do tempo, pois a experiência dessa passagem é um conceito relativo que depende muito mais das mudanças ocorridas durante esse período do que da duração do tempo em si.
Pensemos na ideia de “5 anos atrás”. Para um jovem de 20 anos, isso foi “há muito tempo atrás”. Na perspectiva dele, 5 anos atrás, ele era um mero adolescente, ainda sob a tutela dos pais, cursando o ensino médio, com características físicas juvenis e em fase de desenvolvimento para a adultez. Já para um adulto de 40 anos, os mesmos 5 anos não parecem tanto tempo assim. Aos 35 anos, esse adulto era basicamente a mesma pessoa.
O fenômeno da passagem do tempo é amenizado ou intensificado conforme as mudanças que experimentamos.
Em 2005, no auge das jogatinas com PlayStation 2, já considerávamos o Super Nintendo e o Mega Drive como videogames retrô. Naquela época, ambos tinham por volta de 15 anos. A razão para essa percepção é que a experiência de jogo desses consoles da década de 90 era completamente diferente da experiência dos consoles daquele momento, conferindo-lhes um status retrô.
Do Super Nintendo para o PlayStation 2, muito mudou. Do PlayStation 2 para o PlayStation 5, pouco mudou. É nisso que se sustenta meu argumento.
Quanto à experiência de jogo, os jogos de PlayStation 2 se misturam com os atuais em muitos aspectos. Qualquer jogo de PS2, com um leve upscaling ou remasterização, pode facilmente ser confundido com jogos atuais, especialmente considerando os jogos disponíveis para dispositivos móveis. A similaridade gráfica e de jogabilidade faz com que os títulos do PS2 não causem estranheza nem mesmo às gerações mais jovens, que podem recebê-los com a mesma naturalidade de jogos contemporâneos, sem perceber que muitos destes já têm mais de 20 anos.
A partir do PlayStation 2, tudo foi uma evolução tecnológica das mesmas coisas.
O design de seu controle, por exemplo, estabeleceu um padrão que persiste até hoje. Tanto no PlayStation 2 quanto nos consoles atuais, a essência do controlador é a mesma: dois analógicos, D-Pad, quatro botões do lado direito e quatro botões de ombro. A partir disso, tivemos apenas melhorias incrementais, mas pouca ou quase nenhuma mudança conceitual.
A mídia física, embora tenha evoluído em capacidade, mantém-se conceitualmente a mesma, um disco óptico. Não houve uma mudança disruptiva como a que ocorreu do cartucho para o CD. Ou seja, o DVD do PlayStation 2 e o disco do PlayStation 5 são essencialmente a mesma coisa, apenas com a evolução natural fruto dos 20 anos de evolução tecnológica.
Além disso, a experiência de jogabilidade se mantém consistente através dos gêneros, com avanços focados mais em aspectos gráficos e de performance do que em mudanças fundamentais na forma de jogar. O PS2 consolidou as gameplays em 3D, com personagens controlados pelo analógico e com um game design focado mais no enredo do que nos desafios mecânicos.
Um jogo de aventura e exploração, como God of War, é essencialmente a mesma coisa que um jogo do mesmo gênero nos dias de hoje. O mesmo vale para jogos de tiro em primeira pessoa, jogos de esportes e os principais demais gêneros.
Novamente, a experiência de jogo é a mesma, apenas com evolução gráfica e de performance.
Além disso, o PS2 iniciou a era dos consoles como centrais de multimídia, e não apenas como equipamentos usados exclusivamente para jogos. Esta função se expandiu nas gerações subsequentes, novamente com avanço tecnológico.
Por tudo isso, concluímos que o PlayStation 2 se insere mais em uma linha de continuidade com a era atual do que numa demarcação clara de uma era anterior dos videogames. Sua capacidade de integrar-se à modernidade, sem causar estranheza nas novas gerações, desafia a classificação simplista como retrô, baseada unicamente na passagem do tempo.
A quinta geração, com PlayStation 1, Nintendo 64 e Sega Saturn, demarca claramente uma transição da era retrô para a era moderna. A maioria dos aspectos que se consolidaram após o PlayStation 2 estava em etapa de protótipo ou desenvolvimento na quinta geração.
É claro que o PlayStation 2 possui, sim, alguns elementos de uma era retrô, como o sinal analógico, aspecto 4:3, armazenamento por meio de memory cards, experiência primordialmente offline e multiplayer primordialmente local. Mas, no conjunto da obra, ele possui muito mais semelhanças do que diferenças se comparado aos consoles modernos.
Sendo assim, o que é um console retrô? Da quinta geração, incluindo a própria, para baixo!